Segundo pesquisa realizada em 2023 pela Bloomberg, um dos principais desafios para que
as empresas alcancem suas metas ESG (Ambiental, Social e Governança) é a integração de dados e o gerenciamento do grande volume de informações necessárias para estarem
aderentes aos principais padrões internacionais de sustentabilidade. O estudo entrevistou
mais de 200 profissionais do mercado financeiro baseado na Europa, e mais de 60% dos
consultados afirmaram que a gestão de dados, bem como a qualidade e confiabilidade das
informações ESG, é um tópico prioritário quando se trata de mecanismos para viabilizar o
alinhamento com as exigências do mercado, que estão em constante evolução.
Principalmente após a pandemia do COVID-19, que ocorreu em 2020, o interesse global em
investimentos sustentáveis vem crescendo anualmente (Bloomberg, 2024). De acordo com
relatório da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), o valor dos ativos globais sob
gestão sustentável cresceu significativamente desde o início da pandemia, refletindo um
aumento na demanda por práticas empresariais que promovam a sustentabilidade e a
resiliência ambiental. A crescente adoção de critérios ESG por investidores e empresas
reflete uma transformação profunda no mercado financeiro, que prioriza cada vez mais
aspectos ambientais e sociais em suas decisões.
Esse cenário tem levado a um aumento na busca por conformidade com os principais
padrões, frameworks e normas globais de sustentabilidade, uma vez que o financiamento
sustentável passa por rigorosa análise de riscos socioambientais, dado que tem como
objetivo fomentar o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a Inteligência Artificial (IA),
tem um papel fundamental dentro da agenda ESG, uma vez que pode promover a otimização de processos. De acordo com artigo de 2023 do Fórum Econômico Mundial, "sem IA, não atingiremos as metas ESG e enfrentaremos as mudanças climáticas”, uma vez que as soluções baseadas em inteligência artificial facilitam a integração e a análise de informações complexas necessárias para a conformidade com os critérios de sustentabilidade, podendo oferecer integração de dados quase em tempo real, validação e alinhamento com normativas, além de mapeamentos de lacunas, riscos e oportunidades.
IA no contexto da Mudança Climática
Diante dos desafios urgentes das mudanças climáticas, a IA surge como uma ferramenta útil
para mitigar os impactos e promover a sustentabilidade. Neste contexto, as tecnologias
podem ser utilizadas para otimizar a distribuição de energia em redes inteligentes e
renováveis, reduzir o consumo de água na agricultura e prever desastres naturais com maior
precisão. No entanto, à medida que essas tecnologias evoluem rapidamente, é essencial
refletir sobre os marcos regulatórios e éticos que devem guiar sua adoção. Além disso, é
fundamental que o alto consumo energético dos sistemas de IA seja gerenciado de forma
eficiente para não comprometer os esforços de sustentabilidade, conforme artigo publicado
Tecnologias Sustentáveis e Perspectivas Futuras
As aplicações de IA na gestão ambiental são vastas. Por exemplo, sistemas como o Dynamic World, alimentados por IA, podem monitorar o desmatamento e as mudanças no uso da terra praticamente em tempo real, utilizando dados de satélite. (Brown et al., 2022;
Essas inovações, aliadas à expansão das energias renováveis e à colaboração com órgãos
governamentais, como o INPE no Brasil, destacam como a tecnologia pode ser uma aliada
no combate às mudanças climáticas. O apoio ao monitoramento de incêndios florestais e à
previsão de enchentes são exemplos de como essas parcerias tecnológicas contribuem para a preservação ambiental e a biodiversidade. (Mori, 2023).
A previsão meteorológica, cada vez mais aprimorada, é fruto de modelos complexos como
os Earth System Models (ESM), que integram as interações entre a atmosfera, os oceanos,
ecossistemas terrestres, gelo e a biosfera, considerando tanto as emissões naturais quanto
as antrópicas.
Este modelo melhorou a precisão ao longo das décadas. A Inteligência artificial está
impulsionando uma nova revolução nessa área, gerando as projeções de eventos climáticos
de forma ainda mais rápida (Voosen, 2023).
Conclusões
De forma geral, a IA contribui no combate às alterações climáticas, apoiando a promoção de
eficiência energética, na criação de tecnologia avançada de captura de carbono e em
processos industriais, podendo também facilitar a geração de relatórios relevantes de
sustentabilidade e ESG. Um exemplo de benefício para a agenda climática é a facilitação do
rastreamento adequado de métricas complexas de emissões de Escopo 1, 2 e 3, dado que a rastreabilidade de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) exige uma coleta e
processamento extensivos de dados. A IA pode gerenciar uma multiplicidade de dados
simultaneamente, o que pode facilitar e traçar planos de ação para que as empresas possam atingir suas metas ESG de forma consistente, trazendo impactos positivos reais. (Fórum Econômico Mundial 2023).
Portanto, entendemos que a inteligência artificial é um caminho sem volta para a adaptação
e resiliência frente à crise climática. De acordo com estudo da McKinsey (2024), atualmente,
65% das empresas no mundo já utilizam IA em seus processos, e afirmam que obtiveram
sucesso com o uso da tecnologia. No entanto, é importante destacar que esse sucesso não
se deve apenas à tecnologia em si, mas também à preparação e colaboração de equipes
capacitadas, o que viabiliza a utilização da ferramenta com excelência.
Assim, no contexto da sustentabilidade, como perspectiva futura e em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), esperamos que, como sociedade, possamos nos beneficiar das tecnologias oferecidas pela IA generativa para alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável.
Sobre as autoras:
Nós conhecemos como colegas de trabalho dentro da área de sustentabilidade e, entre um café e outro, conversando sobre nossos desafios, nasceu uma amizade. Percebemos que compartilhávamos um objetivo comum: promover o tema das mudanças climáticas, e nos encontros da vida, vimos que estávamos na mesma turma do curso do YCL de 2024. A formação nos proporcionou não só um mergulho mais profundo nesse assunto, mas também fortaleceu nossa amizade e as trocas que temos até hoje. Decidimos estudar juntas alguns temas específicos e a partir daí nos aprofundamos um pouco mais no mundo que é a Inteligência Artificial, daí nasceu um breve artigo, sendo este apenas o primeiro passo de uma jornada repleta de aprendizado e colaboração, explorando as interseções entre tecnologia e sustentabilidade!
Internacionalista, graduada pela Universidade Federal de São
Paulo, Maria Clara é entusiasta de transformar desafios em
oportunidades. Iniciou sua carreira na área de
sustentabilidade & ESG no mercado financeiro, e desde
então, vem se aprofundando na temática de mudanças
climáticas, ESG, e projetos de impacto socioambiental.
Engenheira Ambiental formada pela Universidade Federal do
ABC, Letícia é apaixonada por sustentabilidade e utiliza sua
visão estratégica para promover um futuro mais responsável e
consciente. Vem se aprofundando nos conhecimentos sobre
mudanças climáticas e ESG, como estudante da pós em ESG
e Sustentabilidade na FGV, reafirmando seu compromisso
com a transformação ambiental.
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