Iniciamos na quinta semana de aulas da YCL abordando um tema crucial: o mercado de carbono . A aula foi conduzida por Caroline Prolo , co-fundadora da LACLIMA, a primeira organização de advogados especializados em mudanças climáticas da América Latina. Caroline trouxe uma vasta experiência e profundidade ao discutir essa temática complexa.
Ela começou explicando as diferentes formas de precificação do carbono, destacando que o ideal seria que essa precificação fosse definida pelas políticas governamentais, o que ajudaria a evitar a volatilidade dos preços. No entanto, como muitas empresas assumem esse papel de maneira independente, utilizam estratégias como o preço sombra, preço implícito e taxa/mercado interno para precificar suas emissões de carbono.
Caroline também esclareceu a diferença entre o mercado regulado e o mercado voluntário de carbono. No mercado regulado, há um sistema de demanda regulado por obrigações legais das empresas para justificar suas emissões, o que ainda não ocorre no Brasil. Já no mercado voluntário, não existe exigência legal, mas há interesse por parte das empresas em comprar créditos de carbono para compensar suas emissões.
Ela aprofundou a explicação sobre o mercado voluntário, ilustrando como ele funciona: empresas interessadas em compensar suas emissões investem em projetos que visam reduzir a emissão de CO2, como usinas eólicas . Certificadoras avaliam a eficácia desses projetos e emitem os significativos créditos de carbono. Um exemplo que ela utilizou foi os produtores de gado que, ao utilizarem biodigestores para transformar resíduos em energia, evitam emissões de CO2 e geram créditos de carbono.
O mercado regulado de carbono , por outro lado, impõe a redução obrigatória de emissões de gases de efeito estufa (GEE) com base em acordos internacionais e legislações nacionais. As empresas também podem adquirir créditos do mercado voluntários para complementar suas metas.
Durante a aula, perguntei-me por que as empresas se interessavam em compensar suas emissões voluntariamente. A resposta veio: empresas que compram créditos de carbono e se associam a ações sustentáveis para melhorar sua imagem no mercado. Isso traz benefícios reputacionais, além de contribuir para a transição para uma economia mais verde.
Porém, Caroline destacou que, embora esse mercado tenha grande potencial, ele precisa ser regulamentado para garantir sua efetividade. Ela apresentou uma linha do tempo de 2009 a 2024, mostrando o avanço de projetos de lei relacionados ao mercado de carbono e com destaque para o Artigo 6 do Acordo de Paris . Este artigo aborda três mecanismos: o 6.2 (abordagem cooperativa entre países), o 6.4 (mecanismo de crédito para certificar projetos de carbono) e o 6.5 (abordagem não mercadológica, que limita as transferências de créditos de carbono).
A Caroline demonstrou grande domínio sobre o tema e entregou uma aula específica e envolvente. No final, houve um espaço para perguntas, e uma das questões mais interessantes foi sobre a postura dos bancos em relação a empresas poluidoras. Caroline explicou que, embora a tendência seja que os bancos deixem de financiar essas empresas, ainda segue essa prática, especialmente em setores relacionados à queima de combustíveis fósseis.
O convidado Thiago Resnitzky também participou, compartilhando sua experiência prática em projetos de crédito de carbono. Ele falou sobre a importância da supervisão desses projetos e da necessidade de metodologias e equipes éticas para garantir que os créditos realmente contribuam para a redução dos impactos ambientais. Ele trouxe uma visão econômica valiosa, demonstrando que o mercado de carbono pode ser uma ferramenta eficaz para financiar a conservação de nossas florestas.
Foi mais uma aula cheia de conteúdo valioso! Estou animado para a próxima, e mal posso esperar para compartilhar mais aprendizados com vocês.
Sobre a palestrante:
Caroline Prolo
Co-fundadora da LACLIMA (Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action), a primeira organização de advogados de mudanças climáticas da América Latina. Sócia da fama re.capital, onde lidera a estratégia de engajamento com as empresas investidas do fundo LatAm Climate Turnaround. Consultora do IIED (International Institute for Environment and Development), atuando há 10 anos nas negociações da UNFCCC e do Acordo de Paris. Graduada em Direito pela UFRGS e Mestre em Direito e Política Ambiental pela University College London. Colunista em matéria de mudanças climáticas no Valor Investe e Capital Reset.
Texto escrito por Andressa Soares, Engenheira ambiental e participante da 11a edição do Curso YCL Mudanças climáticas: panorama, desafios e oportunidades para jovens profissionais.
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